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Sucessão em Movimento: Resiliência Patrimonial e Adaptabilidade

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Nas famílias empresárias, o desafio da sucessão raramente é apenas quem vai assumir, mas como o legado continuará relevante em um mundo que muda mais rápido do que nunca. Estruturas de governança sólidas e acordos bem escritos podem proteger o patrimônio, mas não o futuro. Quando as condições externas mudam, seja por disrupção tecnológica, novas regulações ou transformações de mercado, planos rígidos tendem a quebrar.

A sucessão não é mais apenas uma questão de continuidade. É uma questão de adaptabilidade.

Um erro comum: confundir longevidade com imutabilidade

Muitas famílias acreditam que preservar o que deu certo é sinônimo de perpetuar o sucesso. Mas, em um ambiente de mudanças profundas, isso pode ser o oposto. Os protocolos familiares, testamentos e acordos societários são fundamentais, porém, quase sempre, são construídos sob o pressuposto de estabilidade.

E quando a estabilidade deixa de existir?

Evidências globais de um novo paradigma

Segundo o Deloitte Private – Family Office Insights Series (2023-2024), 41% dos family offices globais esperam uma sucessão nos próximos 10 anos, mas mais de 40% ainda não têm um plano formal de sucessão. Além disso, cerca de 30% reconhecem que a próxima geração não está preparada para assumir posições de liderança. Esses números revelam que o ponto cego da maioria dos planejamentos não está na estratégia, está na execução adaptativa.

Já o Global Family Business Report 2025 da KPMG mostra que 67% das empresas familiares de alta performance possuem conselhos formais, com destaque para aquelas que integram membros externos em sua governança. Segundo o estudo, essas estruturas ampliam a capacidade de antecipar disrupções e equilibrar tradição com inovação.

E uma pesquisa recente da KPMG Canadá (2023) revelou que 79% dos líderes familiares estão acelerando seus planos de sucessão devido a mudanças externas e 71% já possuem planos formais ou detalhados. Ou seja: quem sobrevive melhor às mudanças é quem planeja para elas, não apenas para a continuidade.

Planejar para a mudança: o novo papel da governança familiar

Famílias empresárias resilientes estão transformando o modo como encaram a sucessão. Mais do que um evento, ela se torna um processo contínuo de aprendizado e adaptação. As boas práticas incluem:

  • Protocolos dinâmicos, revisados periodicamente, com espaço para ajustes conforme o contexto muda.
  • Conselhos híbridos, combinando membros da família e profissionais independentes, que tragam visões complementares e pensamento de longo prazo.
  • Simulações e stress tests sucessórios, que antecipem cenários e exponham a família a decisões sob diferentes contextos econômicos ou regulatórios.
  • Treinamento de herdeiros com foco não apenas em gestão de ativos, mas em liderança em ambientes de incerteza.

 

Preparar herdeiros para a incerteza

Mais do que herdar papéis, a próxima geração precisa herdar competências. Isso significa investir em:

  • Vivência prática e rotatividade de papéis, dentro e fora da empresa familiar.
  • Exposição a novos mercados e culturas, para ampliar a visão global.
  • Mentoria intergeracional, com espaço para o diálogo e o conflito construtivo.
  • Formação em governança e gestão de risco, para compreender o patrimônio em toda sua complexidade.

 

Um legado que se adapta

A verdadeira sucessão não é sobre manter o que a família construiu. É sobre garantir que ela continue relevante no que vier a seguir. Planos sucessórios que não incorporam adaptabilidade correm o risco de se tornarem obsoletos. Em tempos de mudança acelerada, a vantagem competitiva de uma família empresária está na sua capacidade de evoluir sem perder sua essência.

Porque, no fim, o patrimônio mais valioso não é o que se acumula. É o que se reinventa.