“Grandes fortunas raramente são perdidas por má sorte. Elas desaparecem por má gestão, conflitos...
O que vem antes: família ou fortuna?
Em quase todas as conversas sobre sucessão patrimonial, o ponto de partida é técnico: estruturas, impostos, eficiência fiscal, testamentos, holdings. Mas por trás de cada decisão jurídica existe algo muito mais complexo: a relação entre pessoas. E é aí que está, de fato, o maior risco e a maior oportunidade de um processo sucessório bem-sucedido.
"Família é mais importante que fortuna.” A frase simples e direta toca num paradoxo central do mundo patrimonial: o de famílias que se empenham em preservar riqueza, mas acabam perdendo coesão e, com ela, o próprio propósito que deu origem ao patrimônio.
O desafio invisível da sucessão
Estudos apontam que a maioria das famílias empresárias subestima o componente emocional da sucessão. Segundo a McKinsey & Company, cerca de 70% das transições patrimoniais fracassam por motivos ligados a conflitos familiares, falta de comunicação ou desalinhamento entre herdeiros, não por questões técnicas ou tributárias.
Ou seja: a herança não se desfaz por uma escritura mal redigida, mas por um almoço mal digerido.
Em muitas empresas familiares, o conselho de administração toma uma decisão estratégica e o almoço de domingo pode desfazê-la. O paradoxo é evidente: a governança corporativa só funciona se estiver alinhada à governança familiar. E, no Brasil, esse alinhamento ainda é um grande desafios nas transições de liderança.
Estruturas financeiras sólidas, vínculos frágeis
O UBS Global Family Office Report (2024) mostra que apenas um terço das famílias de alta renda no mundo tem uma estratégia formal para preparar a próxima geração para a liderança e a responsabilidade sobre o patrimônio. A consequência é previsível: famílias com estruturas financeiras sofisticadas, mas laços frágeis e pouca clareza sobre valores e propósito.
O J.P. Morgan Private Bank sintetiza esse ponto com precisão: “A continuidade de um legado começa com conversas honestas sobre valores, não sobre números.” Isso porque, na prática, o patrimônio não se transmite apenas com documentos; ele se perpetua com identidade.
Três dimensões da sucessão bem-sucedida
As famílias que conseguem atravessar gerações com harmonia e prosperidade geralmente têm três elementos em comum:
- Propósito compartilhado: mais do que proteger ativos, elas cultivam uma narrativa comum sobre o que a riqueza representa. O dinheiro é um meio, não um fim.
- Governança clara: criam fóruns estruturados para diálogo, tomada de decisão e resolução de conflitos. Isso reduz tensões e fortalece o senso de pertencimento.
- Preparação de herdeiros: investem tempo e recursos na educação financeira e emocional da próxima geração. Algo que, segundo o UBS, ainda é exceção e não regra.
O PwC Family Business Survey (2023) reforça essa visão: famílias empresárias que combinam governança e valores têm 66% mais chances de preservar o controle do negócio por três gerações ou mais.
O papel da comunicação
Conversar sobre herança, poder e continuidade nem sempre é confortável. No entanto, o silêncio custa caro. Planejar a sucessão significa abrir espaço para conversas difíceis sobre expectativas, diferenças, e até ressentimentos antigos, antes que esses temas se transformem em rupturas.
Como destaca a McKinsey, famílias que priorizam o diálogo estruturado e transparente em torno do patrimônio desenvolvem “resiliência relacional”, um ativo tão importante quanto qualquer investimento financeiro.
Em outras palavras, a sucessão é um processo emocionalmente inteligente: depende menos de técnica e mais de escuta.
A verdadeira herança
No fim, colocar a família antes da fortuna é reconhecer que a riqueza mais duradoura é a harmonia. Não se trata de romantizar as relações familiares, mas de admitir que nenhuma estrutura jurídica sobrevive a vínculos corroídos. Quando há confiança, clareza e propósito, o patrimônio cumpre seu papel: servir à família, e não o contrário.
O planejamento sucessório, então, deixa de ser um exercício de defesa e passa a ser um instrumento de continuidade. Não apenas da fortuna, mas dos valores, das histórias e das intenções que a criaram.
Como resume uma publicação recente da McKinsey Family Business Practice:
“As famílias que tratam a sucessão como um projeto de liderança coletiva, e não apenas como uma transferência de ativos, constroem legados que resistem ao tempo.”
Em última instância, o sucesso de um processo sucessório não se mede pela redução de impostos ou pela eficiência das holdings, mas pela paz que ele é capaz de preservar.
Vamos falar sobre sucessão? Entre em contato com a gente no Nob Hill Family Office.